130 - Ultrapassemos o inverno
Estamos em pleno inverno, a época do ano mais detestada e temida por muitos dos que vão para novos, em muitos casos com boas razões para isso, a começar pelas péssimas condições de isolamento da sua habitação. É, também, a época das gripes e constipações e do agravar de sintomas de muitas doenças. E tendo em conta o estado atual do nosso SNS e, sobretudo, das Urgências, bom, esta é, de facto uma preocupação mais do que justa.
Há, também, o fator psicológico, uma vez que é bem mais fácil sentirmo-nos otimistas e cheios de energia quando está sol e uma temperatura agradável. Sem contar que muitos veem o inverno como um período de morte, de coisas acabadas, o que os leva a refletir na sua própria mortalidade. Quanto a mim, e como já tenho dito noutros posts, prefiro ver esta estação do ano como um período de hibernação para o nosso planeta e para nós, em preparação do desabrochar da primavera.
Para sobreviver com boa forma física e mental, há várias medidas que podemos tomar, muitas das quais já referi em posts anteriores, alguns deles bem antigos. Por exemplo, em Viver bem o inverno falei de como pôr a casa mais confortável, de como dormir mais quentinho, da roupa e calçado para quando sai e outros conselhos similares.
Em Distrações, sugeri inúmeras atividades para fazer em casa, de trabalhos manuais a aprendizagens diversas, de jogos a puzzles e muito mais, nada exclusivo desta época do ano mas que dá particularmente jeito quando não se pode – ou não se deve – sair de casa.
Em Exercício no inverno a ênfase esteve em não usar o frio e mau tempo como pretexto para uma inatividade mais ou menos total. É que, como também já referi várias vezes, à medida que se vai para novo parar pode literalmente significar morrer.
E apesar de ser um post pensado para antes de se iniciar o inverno, Preparemos o inverno tem algumas boas indicações, nomeadamente não deixar os medicamentos usuais chegarem ao fim – se vêm uns dias de tempo péssimo poderá não ser possível sair para renovar as receitas – e ter um pequeno stock de alimentos pela mesma razão.
Um pequeno reparo, na maior parte deste meu blogue tenho partido do princípio de que quem me lê vive sozinho ou, quanto muito, com alguém na mesma jornada. Mas nem sempre é assim e, em termos de distrações e caso tenha netos, já reparou que os jogos de tabuleiro voltaram a estar na moda? Sim, os antigos que, muito provavelmente, fizeram as delícias da sua infância. Sendo assim, que tal organizar uma sessão periódica para jogarem juntos? Teria também a vantagem adicional de converter uma visita “obrigatória” aos avós em algo divertido.
Há, também, uma atividade que costuma ser adiada ou feita pela rama: arrumações. Não me refiro, claro, às do dia-a-dia, mas a algo mais a fundo. Só que, atenção, a ideia aqui não é fazer um misto de maratona e corrida de velocidade para acabar tudo o mais depressa possível. Não, vá com calma e só um bocadinho de cada vez, hoje uma gaveta, amanhã uma prateleira, etc.
Mas não se limite a tirar tudo, limpar e voltar a arrumar. Aproveite esta oportunidade para analisar os vários artigos com olhos de ver e tente, o mais possível, simplificar a sua vida. Ou seja, faça uma seleção daquilo que tem valor para si, nem que seja apenas sentimental, o que já não tem valor para ninguém e o que pode ser doado ou vendido – sim, não faltam agora sítios para venda de artigos usados...
Para além de aos poucos ir pondo ordem na sua casa – e se calhar descobrir coisas que já nem se lembrava que tinha – isto pode ser, também, uma espécie de viagem ao passado, como referi num dos posts acima citados, se tirar um tempinho para recordar quando comprou aquele objeto, quando estreou aquele vestido, enfim, uma espécie de “revisão” da sua vida, mas sem saudosismos do tipo “os bons velhos tempos”.
Mudando de assunto, se gosta de cozinhar aqui fica uma sugestão inspirada, de certo modo, pelo filme “Julia e Julia”, em que uma Julia atual recria todas as receitas do famoso livro de Julia Child ao longo de um ano. Como muitas pessoas de “outros tempos”, tem certamente um caderninho (ou mais) com receitas herdadas, tiradas de revistas, dadas por pessoas amigas... Que tal começar a fazê-las, pouco a pouco, tomando notas do que lhe agrada em cada uma, do que acha que deveria mudar e do que não gosta mesmo? Para além de ser uma distração, como muitas dessas receitas não são, certamente, só para uma pessoa, ficará com comida para congelar e consumir quando não lhe apetece cozinhar.
A minha última sugestão é bem diferente, tem a ver com fazer projetos para quando o inverno acabar e voltar o bom tempo. Ou seja, em vez de ficar sentado no quente, sem nada fazer, dedicar um tempinho a pesquisar, por exemplo, exposições temporárias em museus – muitos têm-nas precisamente para atrair visitantes “repetentes”.
Ou, tendo em conta o novo passe de 20 euros para os comboios nacionais, estudar a rede ferroviária (tem aqui um mapa completo) e ver que terras sempre quis visitar ou as que lhe despertam interesse – já agora, muitas Câmaras Municipais têm, agora, sites com boas informações sobre o que ver, o que fazer, onde ficar, etc. E há também a muito extensa rede de camionetas Expresso (ver aqui) e outras.
Já agora, porque não ser um niquinho mais ambicioso e estudar destinos fora de Portugal? Há inúmeros voos baratos – mas atenção, se a cidade em questão tiver mais de um aeroporto, como Londres, há o custo acrescido de um transporte mais caro de e para o aeroporto – e ligações (e passes) ferroviários. Isto pode, até, levar à vontade de aprender um bocadinho da língua local, sobretudo se é um país que sempre quis visitar, algo bem fácil hoje em dia via internet.
O principal é tratar este período à partida deprimente para muitos como uma época de atividade e, acima de tudo, de preparação para quando chegar o tão apetecido bom tempo.
Para a semana: Bons e maus exemplos. Algumas iniciativas que só pecam por ser poucas e alguns péssimos casos recentes de maus tratos a idosos