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Ir para novo

Considerações gerais, ideias, projetos e muito mais para quem está a "ir para novo". E para quem tem em casa alguém avançado nesta viagem. Todos os domingos. Alternarei posts gerais e específicos.

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129 - Cancro

Embora se diga comummente “o cancro”, trata-se, na realidade, de mais de 100 doenças com uma característica em comum: o crescimento desordenado das células, ou seja, estas dividem-se de um modo rápido e indefinido. Mais ainda, são células muitíssimo agressivas, podendo, pois, espalhar-se rapidamente.

Há várias causas para estas doenças:

- genéticas; por exemplo, o gene BRCA1 aumenta drasticamente a probabilidade de vir a ter cancro da mama

- externas; as mais comuns são carcinogéneos ambientais, exposição excessiva ao sol (cancros da pele), tabagismo, excesso de consumo de álcool, sedentarismo, alimentação pouco saudável

- vírus; por exemplo, o vírus do papiloma humano está relacionado com o cancro do colo do útero

Já agora, ter um estilo de vida súper saudável não é uma garantia de que não se terá cancro... mas ajuda, pelo menos com certos tipos.

A idade é vista, de certo modo, como um fator contributivo, uma vez que, segundo o Registo Oncológico Nacional, a maioria dos novos cancros ocorrem em pessoas acima dos 60 anos (77,4 % nos homens e 65,3 % nas mulheres), com cerca de um terço em pessoas com 75 anos ou mais. Isto deve-se, por um lado, ao facto de, com a idade, as nossas células irem perdendo a capacidade de se defenderem de mutações, mas, acima de tudo, ao tremendo aumento da esperança média de vida da população – ou seja, até há uns anos as pessoas morriam antes de “terem tempo” de ter cancro ou de este avançar o suficiente para ser a causa da morte.

Pequeno detalhe, a maior parte dos estudos e ensaios não incluem pessoas mais idosas, sendo uma das causas o facto de em muitos casos já haver, também, outras doenças ou problemas de saúde que podem complicar uma leitura dos resultados.

Os tipos de cancro mais comuns são:

- da mama, daí a recomendação de se fazerem mamografias a partir de uma certa idade, que tem vindo a baixar.

- da próstata; surge, sobretudo, a partir dos 65 anos.

- do cólon e reto, o chamado cancro colo-retal; mais de 90 % dos casos surgem em pessoas acima dos 50 anos.

- Traqueia, brônquios e pulmões; é mais frequente nos homens (talvez devido ao tabagismo ou a profissões de risco) e é mais comum após os 55 anos.

Ao contrário do que acontecia até há relativamente pouco tempo, a maioria dos cancros é, agora tratável, sobretudo se forem detetados numa fase inicial. Um dos grandes impulsionadores desta mudança foi a descoberta de que não há um cancro – em miúda ouvia muito médicos e cientistas desejarem que se descobrisse a cura para o cancro – mas que cada tipo é diferente, havendo, até, variantes dentro da mesma variedade, digamos, de cancro.

Está, também, a ir-se cada vez mais para tratamentos feitos por medida. Por exemplo, na Fundação Champalimaud transplantam-se células cancerígenas do paciente em larvas de peixe-zebra, que são depois tratadas com doses e composições variadas de quimioterapia para descobrir a que funciona melhor para aquele caso específico. Pequeno detalhe, esta é uma área em que a chamada Inteligência Artificial pode ajudar imenso, agilizando o processo.

E a cada ano que passa o número de cancros incuráveis vai diminuindo, melhorando-se, também, as técnicas de deteção precoce – a Fundação Botton-Champalimaud, por exemplo, anunciou em dezembro do ano passado ter detetado lesões pancreáticas pré-malignas, abrindo caminho à deteção precoce deste cancro ainda incurável e de evolução galopante.

Antes de passar à parte psicológica, aqui fica uma lista, fornecida pela Liga Contra o Cancro, de sintomas que podem ser sinais de alerta e devem ser mencionados numa consulta médica:

- espessamento, massa ou "uma elevação" na mama, ou em qualquer outra parte do corpo.

- Aparecimento de um sinal novo, ou alteração num sinal já existente, também uma ferida que não passa, ou seja, que não cicatriza.

- Rouquidão ou tosse que não desaparece.

- Alterações relevantes na rotina intestinal ou da bexiga.

- Desconforto depois de comer.

- Dificuldade em engolir.

- Ganho, ou perda de peso, sem motivo aparente.

- Sangramento ou qualquer secreção anormal.

- Sensação de fraqueza ou extremo cansaço.

Repito, são só sintomas que devem ser investigados, não significam que se tenha cancro, isto só um médico o pode decidir após exames variados.

Passemos à parte não física. Acho que a maioria das pessoas está consciente do tremendo peso da parte psicológica na evolução favorável de uma doença. E embora se diga que são os jovens diagnosticados que mais sofrem de revolta e depressão, eu acho que é bem pior para quem vai para novo, sobretudo numa idade bem avançada.

A primeira razão para o dizer está na perceção dessa doença. Lembro-me de em miúda ouvir os adultos à minha volta falarem “na doença que não perdoa”. E, atendendo ao que se sabia sobre cancros na época – ou antes, o cancro, como se dizia – e à falta de cuidados médicos em geral, que permitissem a sua deteção precoce, bom, era quase sempre uma sentença de morte.

Sim, muitos idosos atuais sabem que as coisas mudaram, mas uma coisa é saber, outra bem diferente é interiorizar isso. Ou seja, muitos veem o aparecimento (ou deteção) de um cancro como um anúncio do fim, por muito que lhes digam o contrário – bom, também há o pequeno detalhe de os familiares, quando existem, ou o próprio médico, tenderem a “dourar a pílula” em casos de doença, o que acaba por provocar uma desconfiança generalizada.

Mas há mais. Muitos idosos já sofrem de depressão devido ao isolamento ou às suas condições de vida e a presença de um cancro pode ser a gota de água que lhes quebra o espírito. E como acham que já estão em fim de vida, muitos adiam uma ida ao médico – bom, quando não é adiada por eles – ou a comunicação de sintomas porque, “na minha idade já não vale a pena”. E se é bastante fácil convencer alguém mais novo a fazer tratamentos mais ou menos dolorosos, realçando que ainda têm muitos anos pela frente, a partir de uma certa idade isso torna-se mais difícil, sobretudo para quem interiorizou o idadismo.

Ou seja, esta é mais uma área em que se devia prestar uma atenção particular aos mais idosos, sobretudo aos que viveram uma boa parte da vida numa época em que ter cancro era quase inevitavelmente fatal. Num outro post voltarei a falar, mais detalhadamente, deste lado psicológico do cancro.

Para a semana: Ultrapassemos o inverno. Distrações e ocupações para passar bem o auge do período invernal