127 - Cuidados no inverno
Já tratei anteriormente deste tema – daí ter referido que seria um pouco um resumo da matéria dada. Em Viver bem o inverno falei um pouco de tudo, do aquecimento da casa à roupa de cama e pessoal, calçado, exercício, alimentação e muito mais. Em Exercícios no inverno mencionei alguns modos de nos exercitarmo-nos um pouco quando só apetece estar no quente.
Preparemos o inverno teve mais a ver com passatempos e com encarar este período como uma época de preparação para um renascimento na primavera. O texto Alimentos de inverno foi, como o nome indica, dedicado à alimentação numa época do ano em que o nosso corpo precisa das calorias “certas” para manter a temperatura corporal. Finalmente, em Pensemos no frio dei algumas ideias para começar a apreciar esta estação do ano em vez de a odiar, como muitos de nós fazemos.
Mas volto ao tema porque é uma época particularmente má para quem vai para novo, com os seus riscos associados de surgimento / agravamento de doenças respiratórias e não só, uma vez que o frio aumenta, também, a sensação de dor nas articulações em quem sofre de artrites e similares. Lembro, também, que, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), as complicações de saúde aumentam 30 % no inverno – e com o estado em que está o nosso SNS, não é mesmo altura de ficar doente...
Comecemos pela sensação de frio. Com a teoria de que Portugal é um país de clima brando, as nossas casas não estão devidamente isoladas. Mesmo quando têm vidros duplos, as paredes exteriores não possuem isolamento, ao contrário do que se passa em países bem mais frios, gélidos, até, em que se está muito bem “no calor do lar”. E, infelizmente, com o aumento da idade aumenta, também, a sensibilidade ao frio.
Nos posts acima citados falei em usar camadas de roupa – retêm mais o calor, lençóis de flanela, aquecer a cama antes de se deitar, não sair sem tapar a cabeça (é por onde perdemos mais calor) e, também, de aquecimento. E é precisamente a este tópico que quero voltar aqui.
Lemos todos os anos notícias trágicas de mortes de idosos devidas a lareiras, braseiras e até aquecedores, com ou sem incêndio associado. Lembro que em zonas mais rurais as casas continuam a ser aquecidas a lenha, muitas vezes em dispositivos sem grande nível de segurança. E as chaminés, quando existem, são raramente limpas, acabando por não funcionar devidamente.
Pior ainda, como muitas dessas casas estão em mau estado, há a tentação de chegar a braseira o mais possível para junto da cama, por exemplo, com consequências trágicas. Quanto aos aquecedores, muitas pessoas não novas têm-nos há muitos anos e já não se encontram em muito bom estado, quer sejam a gás ou elétricos.
Se vai para novo ou tem familiares idosos, verifique cuidadosamente todo o seu sistema de aquecimento. Há atualmente inúmeras opções boas e bastante baratas, pense muito a sério em substituir equipamento antigo – além disso, os aparelhos recentes consomem muito menos, ou seja, compensam em pouco tempo. E se tenciona continuar a usar a lareira ou braseiras, verifique o seu estado e, acima de tudo, se existe um escape para os gases produzidos.
E não se esqueça de ter cuidado ao posicionar um aquecedor, é muito fácil ficar em contacto, sem que nos apercebamos disso, com cortinas ou outro material inflamável – e nada de os usar para secar roupa, a menos que esta seja posta um pouco afastada.
Já agora, se investir em lençóis de flanela e um bom edredão e aquecer a cama antes de se deitar, poderá, à vontade, desligar o aquecimento durante a noite, uma vez que estará bem quentinho no seu casulo, sobretudo se não precisar de se levantar para ir ao quarto de banho (fraldas!). Será bem mais seguro, muitos dos casos que lemos ocorrem precisamente durante a noite.
Passando à saúde, convém reforçar o sistema imunitário com uma boa alimentação. Lembro aqui que deve incluir muita fruta, vegetais, grãos e feijões, peixe e frutos secos. E atenção ao consumo de fibras, a regularidade intestinal ajuda o nosso organismo a detetar mais rapidamente qualquer problema. É também uma época do ano em que apetece a chamada comida de conforto, como guisados, sopas e outros pratos mais substanciais.
Não esquecer, também, a hidratação. Há um pouco a ideia de que isso é uma coisa de verão, mas acontece que no inverno o nosso corpo perde água sem darmos por ela, sobretudo quando transitamos entre ambientes a temperaturas diferentes. E a desidratação pode tornar-se um problema grave ou agravar condições existentes. Relembro que não tem de ser necessariamente água, pode-se variar com chás de vários tipos ou, até, tisanas, que podemos pôr num termos ou num copo térmico para manterem a temperatura mais tempo.
É também muito importante não ficar parado. Apesar de ser recomendável não sair quando está mau tempo, isso não significa ficar quietinho no sofá ou na cama. Levante-se pelo menos uma vez de hora a hora e ande pela casa durante uns minutos. E sempre que estiver um dia bom, ou seja, sem chuva e vento, vá dar uma voltinha lá fora, nem precisa de ser muito grande, apanhar sol faz bem – lembre-se, no entanto, de usar calçado adequado, ou seja, antiderrapante, é uma época do ano muito propícia a quedas.
E se ainda não o fez, investigue opções para se exercitar em casa. Há mil e um vídeos de ginástica no sofá (ou na cama), ioga para idosos (também na cadeira), Tai Chi, em fim, um nunca acabar de opções de que tenho dado alguns links – por exemplo, no post acima indicado, Exercício no inverno. O importante é mexer-se, seja ou não de um modo organizado, por muito pouco que apeteça sair do “ninho”.
Finalmente, é particularmente importante criar uma rede de apoios, no mínimo pessoas que contacta regularmente ou que a contactam. É que mesmo que costume sair muito, se estiver mau tempo as pessoas que o costumam ver deduzirão que não saiu por causa disso e nem pensarão que algo possa estar mal consigo.
Para a semana: Inovar no combate à solidão. Projetos inovadores e usar novas tecnologias para minorar este verdadeiro flagelo de quem vai para novo.