123 - Preparemos o Natal
Poderá parecer estranho fazer um post sobre o Natal quando ainda faltam umas três semanas, mas, atendendo a que lojas, e não só, já andam há uns bons tempos focadas nessa data, talvez seja altura de eu fazer o mesmo.
Em Família não há só uma, falei um pouco dos problemas de quem se vê só no Natal já com uma idade avançada e no que podemos fazer para os minorar um pouco. Basicamente, dei ênfase ao facto de que, mesmo quando não há família “de sangue”, seja porque razão for, podemos criar o nosso próprio círculo de convívio. Relembrei a expressão “amigos são a família que escolhemos” e incentivei um bocadinho a dar oportunidades a pessoas com quem convivemos frequentemente, seja num centro de dia, lar ou, até, no prédio onde vivemos.
Quanto à parte mais lúdica, digamos, no post Miminhos... presentes não são só no Natal falei sobre como nos mimarmos nesta data e em muitas outras ocasiões, mesmo quando não há quem nos mime. Ou seja, a vida deve ser celebrada e se criarmos pequenas ocasiões no nosso dia-a-dia rotineiro sentir-nos-emos, certamente, bem melhores connosco e com o mundo. Acima de tudo, não dizer o sempre famoso “só para mim não vale a pena”. Vale, e muito!
No texto de hoje irei abordar a problemática do Natal sob um outro prisma, o de esquecer a solidão ajudando outros. Refiro-me, claro, a quem está só numa fase adiantada da jornada da vida, mas não só, visa também quem pode organizar e ajudar outros a passarem bem essa data. Daí estar a falar deste assunto com antecedência, assim há tempo para algum planeamento.
Mesmo para quem diz que nunca ligou muito ao Natal, esta é sempre uma data mais ou menos triste. Semanas antes as televisões enchem-se de filmes de “final feliz” passados nesta data, há reportagens a torto e a direito e é praticamente impossível não se comparar a situação atual de solidão e isolamento com épocas passadas, em que se passavam as festas em família – mesmo quando as coisas não corriam muito bem e se convivia um pouco por obrigação...
Mas... já pensou em fazer algo para levar um pouco de felicidade nesses dias a outras pessoas nas mesmas – ou piores – situações?
Por exemplo, sempre me fez uma certa confusão haver tantas ceias para os sem-abrigo em datas bem anteriores ao Natal, mas poucas ou nenhumas na Noite de Consoada. Entendo perfeitamente que quem ajuda nessas instituições quer passar essa noite com a sua família, mas não seria uma boa oportunidade para apelar à ajuda de voluntários que não têm com quem estar nessa data? Mais ainda, se está só, que tal contactá-las e propor os seus serviços nessa noite?
Sei que há locais que já organizam ceias de Natal para quem está só, o grande problema é que muitos ou desconhecem a sua existência ou têm vergonha de aparecer. Penso, também, que parte da “culpa” está no modo como essas ceias são apresentadas, ficando, na mente das pessoas, equiparadas às refeições oferecidas a quem tem dificuldades económicas – isto quando não o são mesmo, estando limitadas a idosos com poucos meios.
É que, como tenho dito noutros textos, a solidão e problemas similares não afetam apenas quem tem poucos recursos, há muito boa gente com boas reformas que os tem em grande escala e sem que haja apoios, como disse em Lamento os idosos com dinheiro do meu outro blogue. É aqui que Centros Paroquiais, Juntas de Freguesia, Câmaras e outros organismos poderiam intervir, organizando festas de Natal pagas, por exemplo, mas, sobretudo, apelando ao voluntariado para essas datas. É que muito boa gente que nunca apareceria numa ceia de Natal para pessoas sozinhas não se importaria de o fazer se fosse para ajudar.
Continuando com o tema do voluntariado, já pensou nos que trabalham na noite e dia de Natal a favor da sociedade, ou seja, de todos nós? Bombeiros e polícias, por exemplo. Se tem saudades das refeições em família de outrora, que tal contactar o quartel de Bombeiros ou a Esquadra mais próxima e ver se aceitam que lhes leve uns miminhos nessas datas festivas? E, quem sabe, poderá até criar ali novos amigos...
Mantendo o tema, vi esta semana uma reportagem em que os hospitais se queixavam da falta de voluntários desde a pandemia. E fazem realmente muita falta, não só para ajudar o pessoal em tarefas como dar de comer aos doentes mas, sobretudo, pela companhia que faziam a quem está internado e que, muitas vezes, poucas ou nenhumas visitas tem.
Que tal contactar um hospital perto de si e ver as condições para ser voluntário, sobretudo no dia de Natal? E quem diz hospitais diz lares de idosos, muitos passam lá estas datas e aposto que adorariam uma visitinha. Mas, atenção, não apareça simplesmente, contacte-os para saber o que pode fazer e como.
Na parte final deste texto vou desviar o enfoque para pessoas mais novas. No primeiro post acima citado falei em “adotar” um avô ou avó. Mas não é preciso ir tão longe para melhorar a vida de alguém. Por exemplo, no prédio onde vive há algum morador idoso que sabe que irá estar só? Que tal um convite para a ceia de Natal em sua casa? Faria, certamente, alguém feliz e daria um bom exemplo aos seus filhos sobre o facto de o Natal não se reduzir a prendas. Não digo que abra a porta a desconhecidos, mas há, certamente, gente com quem costuma falar, que conhece, e que pode incluir no seu ambiente familiar.
Há, certamente, muitas oportunidades para não estar só nesta data que em certos países se chama, até, Festa da Família, mas também para se ajudar ajudando outros.
Para a semana: Idadismo na medicina II. Face a casos recentes e com os usuais problemas de saúde que o inverno acarreta é altura de voltar ao assunto