120 - Voltemos a esse tabu, o sexo em idosos
Já falei anteriormente neste assunto em Sexo em idosos, o grande tabu, em que referi, entre outras coisas, o tremendo aumento das doenças sexualmente transmitidas neste setor etário e o pouco – ou nada – que se tem feito, no nosso país e não só, para combater esta praga, graças, sobretudo, ao idadismo que grassa no nosso setor médico.
Quero começar este post com dois esclarecimentos. Primeiro, sexualidade / vida sexual não se reduz ao ato em si. E, segundo, sexualidade não é sinónimo de sensualidade. Já agora, esta confusão / restrição não se resume a quem vai para novo, por incrível que pareça face a tanta educação sexual nas escolas, e não só, até os mais novos pensam assim.
Como referi no post anterior, a vida sexual de idosos é um dos poucos tabus que ainda resistem na nossa sociedade. Os jovens, sobretudo, acham que só eles têm “direito” a ela, muitos tentam até ignorar a hipótese de os pais a terem, muito menos os avós. E isso é particularmente verdade em países como o nosso, que só recentemente se abriram a ideias “mais modernas”.
Tendo dito tudo isto, pode ficar a ideia de que a nossa vida sexual se mantém, alegremente, apesar da idade. Mas é claro que não, seria absurdo que nada mudasse com o passar dos anos. Mas mudar não significa necessariamente que seja para pior, é, apenas... diferente. E há várias razões para isso, tanto psicológicas e sociológicas como biológicas.
Não me irei alongar sobre estas últimas, aconselho, apenas e mais uma vez, uma conversa franca com um médico, há soluções para todo o tipo de disfunções sexuais femininas e masculinas.
Passemos, pois, às razões psicológicas. E esta é uma daquelas áreas em que há enormes diferenças entre homens e mulheres.
Comecemos por estas. Como já referi no post anterior, muitas das que agora estão numa idade mais avançada foram criadas com a ideia de que uma “mulher séria” não pensava em sexo, muito menos sentiria desejo sexual. E que a menopausa significava o fim da vida sexual. Junte-se-lhe o facto de o seu corpo já não ser o mesmo, de se sentir menos atraente pelos padrões de uma sociedade obcecada pela juventude e temos uma “tempestade perfeita” impeditiva de pensar, sequer, nesse assunto.
Já os homens têm um problema oposto, digamos. Para muitos, “ser homem” está ligado a ter vida sexual – no sentido estrito do ato. Sendo assim, qualquer problema temporário pode tornar-se catastrófico, uma vez que ficam a remoer a ideia de já não serem homens, o que agrava a situação. E o facto de muitos passarem pela remoção da próstata também não ajuda, confundem a não ejaculação daí resultante com impotência.
Também aqui, uma conversa franca com um médico poderia ajudar imenso, tanto mulheres como homens. Bom, partindo do princípio que conseguem uma consulta, claro, e que têm a sorte de encontrar alguém que não descarta as suas dúvidas e preocupações com um displicente “isso é da idade”.
Tudo isto é importante para a vida de muitos casais, para uma boa vida em conjunto e, repito, acho que não se lhe dá a devida importância. É que uma quebra nesta área, sobretudo se indesejada por um ou por ambos, pode colocar grandes constrangimentos no relacionamento e, até, o seu fim.
Mas o grande obstáculo a uma vida sexual boa é sociológico, sobretudo para as mulheres. Apesar de ter diminuído imenso, continua a existir um fosso entre a esperança média de vida de homens e mulheres, sendo estas as favorecidas nesta área. E se atendermos ao facto de que, sobretudo até há uns anos, muitas casavam com homens 5 a 10 anos mais velhos do que elas, a probabilidade de ficarem viúvas – e às vezes relativamente cedo – é enorme.
Recordo, também, que a sociedade encara de modo diferente homens e mulheres que estão sós, sejam solteiros, divorciados ou viúvos. Ou seja, é visto como natural os homens, mesmo com uma idade já bem avançada, pensarem em “namorar” ou, até, “irem às meninas”, como se dizia antigamente, o mesmo não acontece com as mulheres – bom, o “namoro”, os “meninos” ou não existem ou não são muito usuais.
Pensem no modo como se reage quando se vê um ator famoso de 70 e tal anos com uma namorada de 20 ou 30 ou uma atriz de 50 com um homem mais novo, por muito elegante e bonita que ela seja. Felizmente, há cada vez mais mulheres que decidem ignorar a opinião dos outros e vivem à sua maneira. E sim, é claro que podem estar a ser enganadas pelo seu dinheiro, mas o mesmo não é verdade com os homens? Acho que o mais importante aqui é entrarem nestas relações, eles e elas, de olhos bem abertos e com uma noção clara do que querem.
É claro que há outra solução, tanto para eles como para elas, mas que é, em todas as idades, um tabu ainda maior – refiro-me, claro, ao chamado “prazer a sós”. Muito francamente, é uma área a explorar... e não falta informação e meios ao dispor de quem queira enveredar por aí.
Finalmente, volto ao que disse no início sobre sexualidade não ser só o ato sexual e sexualidade e sensualidade não serem sinónimos. Isto é particularmente verdade para casais que envelhecem juntos. Se a relação entre eles é boa, acabam por converter muita da sua vida sexual em gestos de ternura. Mais ainda, agora que têm uma vida mais calma, reformados e com “o ninho vazio”, muitos descobrem, até, que não faz mal deixarem-se ir, que andar de mãos dadas na rua ou adormecerem abraçados pode ser tremendamente satisfatório – tudo pequenas coisas que muitos, sobretudo homens, não estavam habituados.
Ou seja, há toda uma gama de atividades e gestos sensuais que não têm de culminar, necessariamente, em sexo, mais ainda, que não têm, sequer, à partida essa intenção. Pessoalmente, acho há muito que a nossa sociedade dá demasiada ênfase ao sexo e pouquíssima ou nenhuma à sensualidade, no seu sentido mais lato.
Para a semana: Também há coisas boas. Alguns projetos bons que só pecam por não serem mais frequentes