119 - Envelhecer com elegância
A atriz Julianne Moore terá definido, numa entrevista, a ideia de que “as mulheres têm de envelhecer com elegância” como sendo totalmente sexista e julgadora. E, francamente, concordo totalmente com ela, uma vez que está restrita às mulheres e ao seu visual.
Só que, para mim, “envelhecer com elegância” é um conceito que se aplica a ambos os sexos e que tem a ver com a aceitação do envelhecimento e a satisfação com que se vive o dia-a-dia. E, felizmente, há cada vez mais pessoas a pensarem deste modo.
É claro que o visual também tem um papel em tudo isto, mas, mais uma vez, não se restringe às mulheres. Se pensarem bem, é muito difícil, quase impossível, até, sentirmo-nos bem na vida se andarmos mal arranjados, pouco limpos, de barba por fazer, cabelo sujo e emaranhado, nódoas na roupa... exceto, claro, se formos o tipo de cientista ou artista que se enfronha de tal modo na sua obra que tudo o mais desaparece – mas estes nem sequer pensam em envelhecimento, com ou sem elegância.
Infelizmente, e graças ao idadismo reinante na sociedade, e em nós mesmos, impera a ideia de que se devem atrasar o mais possível os sinais visíveis de envelhecimento, particularmente nas mulheres, havendo toda uma muito rentável indústria dedicada precisamente a isso. Mas, por outro lado, a mesma sociedade critica ferozmente, goza, até, com quem tudo faz para continuar a parecer novo, às vezes com consequências desastrosas.
Atenção, sou totalmente a favor de tentar atrasar alguns dos sinais visíveis de envelhecimento, mas apenas através de uma boa alimentação, hidratação, exercício regular, contacto social, etc., tudo temas que já tratei anteriormente. É que se chegarmos a uma idade avançada em bom estado físico e mental isso é, certamente, meio caminho andado – ou mais, até – para conseguirmos apreciar devidamente a vida.
Já agora, não sei se repararam mas começa a haver muitas atrizes famosas que aceitam o seu envelhecimento físico, não tendo o menor problema de mostrar ao mundo os seus cabelos brancos e rugas. Já falei anteriormente em Diane Keaton, mas temos também Cameron Diaz, Sharon Stone, Jamie Lee Curtis e muitas outras. Sem falar em Maggie Smith que foi, aos 88 anos, a estrela da campanha da marca Loewe para 2024! Sim, o mundo da moda descobriu, finalmente, o poder de consumo das “velhotas”!
Sim, bem sei que só mencionei atrizes, mas os atores famosos “lutaram” sempre menos por manter um aspeto novo, nalguns casos, até, um bocadinho de esforço não lhes ficaria nada mal – lembro-me, particularmente, de Gérard Depardieu.
Passemos, agora, à tal satisfação com a vida, que não é assim tão fácil de conseguir, sobretudo quando há problemas de saúde. Mas também aqui quanto mais cedo começarmos a tentar alcançá-la mais fácil será mantê-la quando as coisas começam a correr mal.
O grande truque está em mudar a nossa perspetiva. Ou seja, em vez de nos focarmos no que vamos perdendo com o passar dos anos, que tal olharmos para o que ganhamos? Falei deste assunto em É tão bom já não ser novo!, mas deixo aqui mais alguns exemplos.
Por exemplo, o célebre “ninho vazio” – bom, em Portugal, com o problema da habitação, surge cada vez mais tarde... Em vez de nos concentrarmos na ausência dos filhos, pensemos, antes, que temos agora um espaço só para nós e que podemos alterar e usar a nosso belo prazer. Por exemplo, transformar um dos quartos num estúdio ou numa sala de cinema dedicada. Ou, em vez de “estou reformado, sou um inútil”, que tal “estou reformado, tenho tempo livre para fazer inúmeras coisas?”.
Há estudos que indicam que a adoção de alguns comportamentos ajuda imenso a conseguir este tipo de envelhecimento com elegância. Por exemplo, dar um pequeno passeio em que a ênfase está em detetar coisas que nos causam admiração – e não é só a natureza, se vive numa cidade, preste atenção a detalhes de prédios, candeeiros, carros diferentes, enfim, um sem número de coisas. Já agora, a indicação é que uns meros 15 minutos por semana podem ter um grande impacto – a ideia subjacente é manter a sensação de maravilhamento das crianças e que vamos perdendo ao longo dos anos.
Estimular os sentidos é outra dessas técnicas, uma vez que se deterioram, em menor ou maior grau, com a idade. Por exemplo, acrescentar plantas e cores ao seu ambiente caseiro, nem que seja temporariamente. Ou tocar deliberadamente em materiais diferentes para sentir a diferença na sua textura. Usar mais ervas aromáticas e condimentos quando cozinha – e alguns têm até efeitos benéficos para a saúde, como referi noutros posts.
Acima de tudo, envelhecer com elegância significa aceitar plenamente as mudanças por que está a passar – convém ir tendo em mente qual é a única alternativa a envelhecer... Significa, também, andar de cabeça erguida e não com ar de quem pede desculpa por já não ser novo ou a tentar passar despercebido o mais possível numa sociedade obcecada pela juventude.
Acima de tudo, significa não pensar que a vida acabou e que se está, apenas, a deixar passar o tempo até ser realmente o fim. Tenha em mente o muito que aprendeu na vida e o muito que ainda poderá aprender. E sim, mesmo que não tenha muitos estudos formais, há anos de experiência ao seu dispor que pode usar e, até, transmitir. Ou seja, veja os seus muitos anos como motivo de orgulho e não como algo que o diminui.
Quanto ao visual, o mais importante é sentir-se bem consigo mesmo – e, como disse acima, isso implica, normalmente, arranjar-se pelo menos um bocadinho. E esqueça o que “é próprio” para a sua idade, arranje o seu próprio estilo, vista-se como gosta e ignore o habitual maldizer. Mas, atenção, a ênfase aqui deve ser “como gosta” e não uma tentativa desesperada de reviver “os dias gloriosos” da sua juventude!
Para a semana: Voltemos a esse tabu, o sexo em idosos. Fala-se tão pouco deste tema que vale a pena voltar a ele.