118 - Obstipação
À semelhança da incontinência – e sexo – este é um assunto quase tabu, apesar de afetar muita gente de todas as idades. Refiro-me, claro, à comezinha prisão de ventre de que já todos sofremos em menor ou maior escala.
Começo por dizer que a chamada “regularidade” não é igual para toda a gente, ou seja, há quem o faça diariamente, outros, nem por isso. É, pois, uma daquelas situações em que cada caso é um caso e só se pode falar de prisão de ventre quando a nossa regularidade se altera de forma marcada e, sobretudo, se vier acompanhada de cólicas e / ou obriga a um grande esforço físico.
Mas a definição “oficial” é que uma pessoa sofre de obstipação se tem menos de 2 a 3 movimentos intestinais por semana.
Convém, também, recordar que a obstipação não é uma doença, é apenas um sintoma. Mesmo assim, costuma surgir, muitas vezes pela primeira vez, em quem “vai para novo” e há várias razões para isso:
- Alguns medicamentos têm a obstipação como efeito secundário. Se só começou a sofrer disso após iniciar uma determinada medicamentação, fale com o seu médico para ver se é possível substituir esse fármaco por outro que não a provoque.
- A falta de exercício, que em muitas pessoas se agrava com a idade, é um fator importante. Pior ainda, se a pessoa passa muito tempo sentada ou deitada, ou por falta de mobilidade ou, apenas, por inércia.
- A dificuldade progressiva em mastigar e engolir leva ao consumo de alimentos pobres em fibra, prejudicando o trânsito intestinal.
- A tendência que tenho referido de não cozinhar “porque só para mim não vale a pena” cria uma dieta com poucas fibras.
- Como a sensação de sede também diminui com a idade, há a tendência de beber poucos líquidos, o que leva a fezes mais secas e duras, de circulação mais difícil.
- Adiar a ida ao quarto de banho por razões diversas, por exemplo, alguma falta de mobilidade.
- Tomar regularmente laxantes; sim, causam habituação e interferem com a flora intestinal, mas falarei mais disto adiante.
É claro que pode dever-se, também, a algumas patologias, como doença de Parkinson, diabetes, tumores, etc., fora do âmbito deste post.
O principal inconveniente da obstipação crónica em pessoas menos novas está na sensação de inchaço que provoca, de desconforto, que as pode levar a não quererem comer porque “se sentem cheias” ou a moverem-se, porque isso causa desconforto. E, claro, quando menos comem – coisas boas, claro – e se movem mais agravam a situação.
Mais ainda, o esforço que fazem quando vão, eventualmente, ao quarto de banho, pode causar-lhes todo o tipo de problemas, como hemorroides. E este é um daqueles casos em que quanto mais tempo passa, pior fica a situação. Ou seja, as fezes endurecem cada vez mais e de difícil o trânsito intestinal pode tornar-se, até, impossível.
Felizmente, há algumas medidas que se podem tomar para evitar a obstipação, ou, pelo menos, minorá-la, sobretudo na área alimentar. E aqui vão elas:
- Fazer refeições regulares; e são mesmo refeições, viver de chá e bolachas não conta!
- Comer alimentos ricos em fibra, como leguminosas (feijão, grão), muita fruta e legumes. Já agora, se tem mesmo dificuldades em mastigar, não comendo, pois, fibra suficiente, experimente complementar a sua alimentação com um suplemento de fibra solúvel.
- Beber muita água. E, relembro, refrigerantes e álcool não a substituem.
- Exercício físico. Não precisa de ser intenso, basta ser regular.
- Evite adiar a ida ao quarto de banho quando sente vontade. Sim, a série que está a ver ou o futebol estão num momento excitante ou está bem aconchegado no quentinho do seu cadeirão favorito, mas esses adiamentos acabam por vir a causar problemas.
Passemos agora aos laxantes, a primeira medida que todos adotamos quando começamos a sofrer de obstipação mais regularmente. Começo por dizer que há-os de vários tipos e com efeitos diferentes.
- Laxantes expansores de volume: contêm fibras, solúveis ou insolúveis, e, como o nome indica, expandem o volume das fezes, tornando-as mais macias e fáceis de eliminar. Não são muito agressivos para a flora intestinal.
- Laxantes osmóticos: favorecem a retenção de água nas fezes, facilitando, assim, o seu trânsito intestinal. São os menos agressivos de todos.
- Laxantes estimulantes: promovem a contração dos músculos do intestino; têm uma atuação rápida mas são, também, os mais agressivos e só devem ser tomados esporadicamente ou poderão destruir totalmente a flora intestinal.
Como disse acima, o uso contínuo de laxantes causa habituação, sobretudo os estimulantes. Ou seja, para continuarem a dar efeito torna-se necessário ir aumentando as doses.
Se já sofre de obstipação crónica e toma laxantes diariamente – ou quase – o ideal será começar a alterar alguns dos seus hábitos, sobretudo os alimentares, e dar preferência aos laxantes osmóticos. Sobretudo se está “viciado” nos laxantes estimulantes, faça a transição. Posso dizer, por experiência direta com familiares que tinham passado anos a tomar gotas fortes quase diariamente, que, quando os mudei para um osmótico, passaram rapidamente de uma dose diária a uma semanal e, às vezes, nem isso.
Resumindo, se vai para novo ou tem alguém a seu cargo, vigie as idas ao quarto de banho. Sobretudo no segundo caso, não se acanhe de perguntar, sim, não é uma “conversa de salão” mas pode vir a evitar muitos dissabores.
Tente, dentro do possível, instaurar bons hábitos alimentares e de exercício físico, sem esquecer a eterna recomendação de beber muita água. Evite, o mais possível, a dependência de laxantes fortes, mas tenha uma embalagem em casa para o caso de vir a ser mesmo precisa. E se a obstipação surgiu de repente, bom, o ideal será consultar um médico para ver se não haverá outra causa... pois, boa sorte com a consulta!
Para a semana: Envelhecer com elegância. E aqui, elegância não se refere só ao visual