115 - A louca corrida por parecer jovem
Já falei anteriormente do problema do envelhecimento em termos do visual, ou antes, da não aceitação de que as coisas vão mudando, nomeadamente em Como os idosos se veem, Cuidemos de nós e Cuidados de beleza. Mas perante a tremenda pressão da sociedade atual em relação a “parecer jovem” acho que vale a pena voltar ao assunto.
A preocupação com o envelhecimento, sob o ponto de vista estético, não surgiu recentemente. Em livros antigos, alguns até bem antigos, não faltam receitas e mezinhas para manter a pele da cara com o aspeto considerado desejável para os padrões da época. E, diga-se de passagem, alguns desses produtos mantinham mesmo a juventude – eram tão venenosos que a esperança de vida de quem os usava caía na vertical. Ou seja, morriam jovens!
E não nos esqueçamos dos muitos que pereceram na demanda pela Fonte da Juventude. Ou dos muitos anos e dinheiro gastos na tentativa de produzir a Pedra Filosofal, também ela um garante de vida eterna.
Só que, durante séculos, essa procura da juventude restringia-se apenas à classe endinheirada ou a uma parte dela. Com as dificuldades alimentares, excesso de trabalho e partos sucessivos, muitas das mulheres resignavam-se à ideia de que aos vinte e poucos já eram velhas e, quanto muito, tentavam aproveitar ao máximo o brevíssimo período da juventude.
Mas agora essa demanda tornou-se transversal e vários setores económicos descobriram o muito que podem ganhar com promessas de juventude, bom, pelo menos aparente. Os tratamentos plásticos disseminaram-se como ervas daninhas, infelizmente nem sempre do melhor modo. Não nos esqueçamos das muitas histórias de horror de quem foi fazer cirurgias baratas a certos países e veio de lá com gravíssimos problemas de saúde. Ou as “festas de Botox”, tão populares em alguns países, em que o dito é administrado por amadores e sem ter em conta o estado de saúde dos visados.
Não pensem que são só as mulheres, há cada vez mais homens a investirem, digamos, no visual. Aplaudo, claro, o facto de estarem a afastar-se da ideia de que cuidar de nós é algo feminino, infelizmente começamos a ver os mesmos extremos nesse setor da população. E a obsessão pela eterna juventude é tal que há países onde jovens de vinte anos ou pouco mais já usam Botox e outros tratamentos “como precaução”.
Como tenho dito, nos posts acima citados e noutros, há uma grande diferença, um abismo, entre cuidar do nosso visual e correr atrás da juventude perdida. Pior ainda, para além do muito dinheiro gasto em cremes e tratamentos “milagrosos”, algumas das medidas tomadas podem, até, ter um efeito contrário.
Pintar o cabelo, por exemplo. Se o faz porque gosta do resultado, tudo bem, pode até fazer todo o tipo de experiências, torná-lo azul, roxo, cor-de-rosa, desde que seja porque é isso que quer. Mas se o faz apenas para esconder a idade ao ocultar os cabelos brancos, pense melhor.
Com a idade, o cabelo tem tendência a enfraquecer e a cair mais. Ora pintá-lo frequentemente, sobretudo se for com produtos baratuchos, poderá acelerar esse enfraquecimento. E acabará com uma cabeleira baça, quebradiça e, sejamos sinceros, com muito mau aspeto. Pense, pois, se não será melhor investir num bom champô, amaciador e máscaras e ter cabelos brancos mas brilhantes, sedosos e com um aspeto saudável.
O mesmo se passa com a pele. Em vez de cremes caríssimos, que prometem reverter ou impedir o envelhecimento, cuide bem dela, limpe-a com cuidado e hidrate-a muito bem. Já agora, se continua a maquilhar-se, nunca, mas mesmo nunca vá para a cama sem limpar a cara como deve ser. E há inúmeras máscaras boas e em conta que proporcionam alguma hidratação extra ou esfoliam – mas nada de produtos demasiado fortes!
Quanto ao corpinho, a chegada da menopausa traz, muitas vezes, alguns quilinhos indesejáveis. E esta é outra área onde abundam “curas milagrosas”. É uma catadupa de livros e sites com as dietas mais recentes – e, aqui para nós, muitas delas a raiar o absurdo. São aparelhos de todo o tipo que, também eles, prometem restituir a silhueta dos trinta anos com um mínimo de esforço.
Muito francamente, há algo em tudo isto que me deixa extremamente curiosa: se as dietas funcionam às mil maravilhas, como os seus autores apregoam, porque é que estão sempre a surgir novas?
Sim, acho que se deve fazer um esforço para ter um peso razoável, mas não por razões meramente estéticas. Mais ainda, é altura de começarmos a aceitar, em nós e como sociedade, que o aspeto do corpo humano evolui com a idade. Notem que usei o termo “evolui” e não muda, precisamente porque subconscientemente acrescentamos “para pior” quando pensamos em termos de mudanças no nosso físico.
Em vez da dieta da moda, uma alimentação mais cuidada e saudável. E se precisa mesmo de perder uns quilinhos, bom, pode-se sempre reduzir as coisas mais calóricas que habitualmente comemos. Mais uma vez, disse “reduzir” e não “cortar”, é que a menos que seja por razões médicas não sou adepta de proibições alimentares, acho que a moderação é bem mais importante e, acima de tudo, sustentável a médio e longo prazo.
E para ajudar, e não só, aumentar a atividade física – ou começar a tê-la, se tem sido bastante sedentário. Mas também aqui a ênfase deve estar na melhoria do bem-estar geral e não apenas em recuperar um corpo de jovem. Se o pode fazer, saia para caminhar. Ou inscreva-se em ginástica, ioga ou algo similar.
Mais uma vez, a moderação é importante. É bem mais benéfico ser regular do que ter apenas uma sessão violentíssima uma vez por semana. E posso garantir, por experiência própria, que resulta. Em tempos comprei uma passadeira elétrica, das não muito potentes, que comecei a usar diariamente. Faço agora cerca de dois quilómetros diários nela, a caminhar, não a correr, e sinto-me bem melhor, física e psicologicamente. É uma solução ideal para quem não pode sair muito de casa, sem contar que permite fazer exercício mesmo com tempo mau.
Para terminar, num dos posts citados falei no desastre que foi a tentativa de Meg Ryan para manter o visual de “menininha”. Pois bem, um dia destes apanhei parte do filme “Os Cooper são o máximo” e foi refrescante ver como Diane Keaton se deixou envelhecer normalmente. Que contraste!
Para a semana: Incontinência. Apesar dos muitos anúncios televisivos, continua a ser um assunto quase tabu, sobretudo para homens.